terça-feira, dezembro 14

O Indigente: Como viver nessa insólita opulência, afortunado de tantas vontades...

 -"O INDIGENTE" de José Valdir Pereira 
[Foi lançado em Porto Velho/RO, no limiar de 1982] 
.
Quão passivo é esse indigente,
que como num gostar eterno e indizível,
acede a essa insolvência,
como recurso único e supremo
à sua subsistência;
e inserido nessa imanência
não sabe exaurir paciência.

Com todo esse conformismo,
impregnando sua razão de ser,
adentrando em suas entranhas,
e avivando-se num perecer,
ele vive a sua vida
e não a ousa perder.

Sem titubear, sempre hilariante,
tudo espera ou supera e prossegue adiante,
como quem precisa chegar,
mesmo com seu fardo pesado,
com o que tem a dizer estocado,
ele caminha sem claudicar.

Com suas esperanças jamais esquecidas,
esgotando derradeiras vontades não desferidas,
ele se apega e confia,
como quem, tragado por um querer pujante,
desafia, com uma postura relutante,
o inatingível e inexorável horizonte
puro e singelo de sua vida

Como viver nessa insólita opulência,
afortunado de tantas vontades esquecidas,
com tantas esperanças investidas,
permutando desejos e creditando necessidades não supridas?


De momento, faço referência ao poeta José Valdir Pereira, trazendo o grande poema  acima, seguido de um "trecho" do prefácio a ele dedicado por Vitor Hugo¹, no seu primeiro livro de poesias.

É como se o poeta estivesse dizendo: "Amo arrumar palavras. Porque sei que há traças percorrendo em rios de papéis. Coisa difícil é dar...Palavras são sangue, mesmo as que gravadas sem propósito.  E..., assim continua a dedicatória: "Escuta-me, Valdir: se foi surpresa para mim o pedido que me fizeste, eu já tinha descoberto em ti “o” poeta: O poeta vai pela rua. Ninguém está vendo o poeta, porque o poeta é transparente. Mas duvido que ninguém sinta a sua presença abstrata. A poesia é o coração, é a alma, um produto superior ao mesmo livro; em miríades de sensações diversas, em um labirinto de belos panoramas, dispostos ao colorão da arte, a poesia fulgura, a imaginação voa, o ideal se coloca e a imensidade aparece.

Todo livro tem a sua história particular, os seus quês e para-quês, defeitos ou virtudes, que lhes assinalam os homens, os fatos, ou a natureza. A poesia em ti, Valdir, eu já t’o disse: começa em teu lar. Não és poeta porque escreves poesias, tampouco és poeta porque tens um lar poético.

Constituíste, sim, um idílico lar poético porque és poeta: a poesia está em ti.
A poesia é o coração, é a alma, um produto superior ao mesmo livro; em miríades de sensações diversas, em um labirinto de belos panoramas, dispostos ao colorão da arte, a poesia fulgura, a imaginação voa, o ideal se coloca e a imensidade aparece.

Estão aí, Valdir, os teus versos. Continua compondo versos, continua sendo poeta, sobretudo na vida, esperança dos míseros humanos, divino apagador dos desenganos.
Dentro de tua mensagem poética, otimista, entretanto, não te esqueças, Valdir, do nosso primeiro vate, cujos ossos repousam no Cemitério dos Inocentes; estou falando de Vespasiano ramos, que morreu lembrando-nos a nós todos, triste realidade:
...na terra, deu-se, apenas, isto:
multiplicou-se o número de Judas
...e vai crescendo a prole de Pilatos.

¹ Vitor Hugo: Historiador, Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Amazonas e de Rondônia.

2 comentários:

Escritor e poeta josé valdir disse...

Ah, como fica belo tudo isso que voc~e está fazendo...Um averdadeira artista...parbéns!

Francisca disse...

A beleza de tudo sómente existe por haver pessoas capacitadas para criar e enxerga-lás, como tu o fazes!
Muito obrigada mano e poeta!
Um beijo no coração.