domingo, novembro 21

"Inscrição" de Cecília Meireles


"Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança,em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar".
[Cecília Meireles in "Inscrição"]
 .
É tão rico..., tão profundo este poema. É o lirismo de Cecília Meireles  em foco, o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. 
Na composição poética, tudo indica que a poetisa qualifica a condição de sermos humanos, colocando-nos entre os limites das lágrimas. Por exemplo, quando a poetisa indaga: 
- Por que somos "unicamente", apenas, tão-somente... humanos?
- Por que...? 
- Por que havemos de ser...?
É desse modo que, caracteriza o quanto somos limitados em chorar. Ora, quem sofre, quem chora, quem se contrai em dores dentro si e não vê saída ou solução para o seu pesar, não vê outra senão chorar. São as convicções interiores acerca da vida, do eu... Convicções estas que, no entanto, não têm a ver com o mundo de água e ar, com o mundo físico. Ela leva-nos a entender por meio dos sentidos que deveríamos ser capazes de ir além das lágrimas. Assim, se lamenta. É o lamento de todos nós...

3 comentários:

Divulgacao Virtual disse...

"Ódio produz casamentos duradouros. O ódio não suporta a idéia de ver o outro voando livre, para longe...
O ódio segura, para que o outro não seja feliz. O ódio gruda mais que amor. Porque o amor deixa o outro voar..." (Rubens Alves

Divulgacao Virtual disse...

"Ódio produz casamentos duradouros. O ódio não suporta a idéia de ver o outro voando livre, para longe...
O ódio segura, para que o outro não seja feliz. O ódio gruda mais que amor. Porque o amor deixa o outro voar..." (Rubens Alves

Francisca disse...

Quanta profundeza neste seu comentário. Agradeço-te imenso!.

Lendo e relendo Rubens Alvez, realmente, perçebo que é como dizem, "poucas pessoas conseguiram definir tão bem os caminhos do amor", como ele.

Tua análise, reportou-me para uma fábula do próprio 'Rubens Alvez', denominada " A PIPA E A FLOR". É bem conhecida...
Esta história, segundo conta o autor, "ainda não terminou
e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.
3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme. Isso aconteceu num belo dia de sol e a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram
juntas". [Rubens Alves]

Mais uma vez, obrigada por tua rica participação. Abraços