segunda-feira, março 8

Documentário Língua - vidas em português


Documentário filmado em seis paises: 
Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, França e Japão.
Participam José Saramago, Martinho da Vila, 
João Ubaldo Ribeiro, Madredeus e Mia Couto.

"Toda noite, duzentos milhões de pessoas sonham em português" ― com esta frase, começa o documentário Língua ― vidas em português, de Victor Lopes. Não foi lançado este ano mas, vale a pena rever. Filmado em seis países (Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, França e Japão) , trata da capacidade que nosso idioma tem vindo a  modificar o próprio corpo, como diria o escritor Mia Couto. Mas essas modificações derivadas do casamento com outros solos (para usar outra expressão de Couto) são capazes de transformar o português em outra língua?
Na verdade, não. Apenas mudanças estruturais alteram uma língua, o que não ocorreu no Brasil, nem nos outros países usuários do português. Mas não podemos ignorar as diferenças entre o português do Brasil ― filho que se tornou maior que o pai ― e o de Portugal. Por exemplo: se você estiver em Lisboa, deve pedir uma bica e não um cafezinho. Isso mesmo: bica, que, na gíria dos jovens paulistas, significa pontapé. E quem nunca ouviu um relato das confusões geradas pelo significado da palavra “bicha”, que, em Portugal, significa fila? Pensando nessas e em outras diferenças, como as de pronúncia e de morfologia e sintaxe ― em Portugal, diz-se “dá-me um baijo” e, no Brasil, “Me dá um beijo” ―, os lingüistas falam em diferentes modalidades de português. O nosso é o português brasileiro.

Em oito séculos de português, muita coisa se perdeu e se modificou, vossa mercê há de concordar. Os mais conservadores, como José Saramago, acham que nosso vocabulário está diminuindo e que, com isso, a comunicação será prejudicada. Então, nos comunicaremos com grunhidos ― numa espécie de retorno às cavernas. Talvez, esta seja uma visão parcial do nosso idioma, pois da mesma forma que algumas palavras estão em desuso, outras vão sendo criadas. A língua portuguesa também está viva e, como tal, sofre transformações todo dia. Mas o mesmo Saramago, na última parte do documentário, faz diferença entre a língua como mero instrumento de comunicação e a que se transforma, pelas mãos de escritores poetas e cronistas, em fonte inesgotável de beleza. E acrescenta: “Aquilo que sobrou, aquilo que as bibliotecas guardam, dava para passar a vida inteira mergulhado na língua portuguesa”.

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