terça-feira, outubro 9

Trajetória percorrida para a incorporação das mulheres nos estudos históricos

A história tradicional cedeu progressivamente espaço a novas abordagens e objetos, contexto no qual se insere a história das mulheres. Importante também para o pensamento marxista, é efetivamente com a Nova História francesa, sobretudo nos anos 60, que a história das mulheres começa a ganhar corpo. Esse movimento, obviamente, não ocorre isolado da forte retomada do movimento feminista, agora no contexto dos "novos movimentos sociais"(1) que marcaram as várias revoluções comportamentais da década. Com a Nova História várias temáticas "como por exemplo, a infância, a morte, a loucura, o clima, os odores, a sujeira e a limpeza, os gestos, o corpo (...), a feminilidade"(2) passaram a ser vistas como possíveis objetos da história e as mulheres encaradas como sendo também sujeitos da história. Em alguns momentos da história da educação brasileira algumas políticas públicas rompem com os vínculos diretos entre o que se ensina na escola e a produção histórica específica, estimulando a formação de docentes para reproduzir um saber desvinculado das discussões acadêmicas, voltado prioritariamente para a legitimação de situações político-sociais que dependem da passividade ou adesão acrítica dos cidadãos. Apesar desses momentos de predominância oligárquica e / ou ditatorial, permanecem as lutas de professores / historiadores para aproximarem o ensino de História das questões, das abordagens e dos temas desenvolvidos pela pesquisa teórica e científica, que tem uma dinâmica de sintonia – ainda que não imediata ou desprovida de problemas - com demandas sociais.

Mas, como democratizar a sociedade, colocando em pauta a questão dos direitos das mulheres, formar cidadãs que tenham consciência do seu papel na sociedade, se na escola ela sempre estudou uma "história masculina", na qual os sujeitos são sempre homens? Afinal, as mulheres nunca se viram como sujeito na História ensinada; já dizia Simone de Beauvoir, numa frase da década de 1950, bastante citada nos estudos sobre esse tema, que a mulher não nasce mulher, mas torna-se mulher conhecendo a sua história. A educação escolar antigamente era apenas para a elite da população e para tanto os conteúdos das disciplinas deveriam atender à formação dessa elite, com exaltação de heróis, a idéia de "pobres bandoleiros", e de que só uma pessoa rica e estudada pode chegar ao poder, governar. No entanto, a educação se universalizou, as classes populares passaram a ter acesso a escola e começaram a ser formadas a partir dos mesmos moldes desenvolvidos para educar a elite, isso não poderia, realmente, dar certo. Para formar o "povo" é necessário incluí-lo na história e não educá-lo numa escola que reforça e legitima a sua exclusão da história. As pessoas precisam estudar uma história que as faça perceber-se parte do todo e não um mero figurante no processo histórico (3).

(1) - HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Porto Alegre: DP&A, 1998, p.23.

(2) - BURKE, Peter. A escrita da História: novas perspectivas. SP: UNESP, 1992, p. 11.

(3) - FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História. Campinas, SP: Papirus, 2003, p.32.

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