"Esta realidade vem se arrastando historicamente, vem limitando desfavoravelmente o desenvolvimento do país e a Cidadania dos portugueses. Cidadania esta, que deveria ser construída com mais avanços em direcção à superação dos medos e das desconfianças de si, do vizinho, do colega, do imigrante que chega, do diferente, do governo, do novo, e do país. Portugal é um país com seu povo em baixa auto-estima; o povo não acredita no outro, nem em si mesmo, apesar do ar imponente dos resquícios da nobreza; Portugal é o país do SE CALHAR. Vejam a diferença entre BRASIL, o qual é o país DO COM CERTEZA, mesmo em momentos de não certeza. Apesar de que optimismo exagerado também não ser lá muito bom, mas é sempre preferível ao invés de uma postura derrotista e esmagadoramente para trás, como o que acontece em Portugal.
Portugueses, por exemplo: gostam de sentar na mesma mesa, no mesmo canto, tomar o café daquele mesmo jeito; não gostam que se metam em suas vidas, mas gostam de saber da vida de todos; valorizam o TER, mas apenas ao que se refere a dinheiro, a um DR e ao casamento, negando completamente o valor do saber, da educação, das ideias, da emancipação, e do conhecimento do outro; isso lhes dá uma (pseudo) segurança, lhes dá um (pseudo) controle social, mas é na verdade um conservadorismo prejudicial que entrava mudanças, que entrava o pensar maior, que entrava a aprendizagem e o desenvolvimento.
Deveriam ser investidas acções com mais abertura aos sentimentos, as emoções, as mudanças e a esperança. Como diz a Catarina no seu artigo, é preciso PAIXÃO. Pois percebo que, os sentimentos e à socialização da verdadeira liberdade, são tolhidos/reprimidos em Portugal. As pessoas cá não podem sentirem-se felizes, porque dizem logo isto é fantasia; não se pode tocar no corpo do outro, como expressão de carinho, fraternidade e calor humano, porque sentem logo uma libidinosidade naquele acto e desconfiam das intenções, até porque se forem eles a tocar, realmente estarão com segundas intenções.
São na verdade, à sexualidade e os sentimentos reprimidos que muitas vezes saem pelas tangentes, até mesmo faz adoecer física e mentalmente a população. Este sistema, socialmente, predominante nas relações, além de criar mentes radicais, conservadoras, estagnadas, críticas sem fundamentos cultos, e de certa forma agressiva no expressar, como por exemplo a xenofobia, geram profundos distúrbios psicológicos nas próprias pessoas, e desencontros nos diversos momentos das relações sociais do quotidiano. Imaginemos a extensão disso para as Relações internacionais?
Óbvio que, esta distância nos relacionamentos (nos sentimentos) não é só pertinente aos portugueses é também a outros povos do mundo, que em geral até são economicamente mais desenvolvidos, mas aqui em Portugal a grande diferença, é que o povo fragilizado financeiramente, é onde mais transfere a necessidade do SER para o TER, e assim tantas outras coisas desviantes tomam o lugar dos autênticos afectos, como o dinheiro, o álcool, as drogas, as discussões banais, a insegurança do perder, e o medo de amar e de ser feliz. Todos querem ser felizes, mas não largam o xale preto para si próprio e para o outro, sobrepondo-o aos ombros toda vez que algo deste universo emocional incita. Será que não sabem que a recolha de sentimentos e a frieza (que confundem com equilíbrio) em nome da racionalização, cortam à criatividade, à espontaneidade, e à compreensão? Consequentemente inibem mudanças e evolução de saberes, acarretando baixa aprendizagem e incompetências?
A economia em Portugal é muita baixa em relação as suas potencialidades, vemos mais de 70% dos produtos de consumo e matéria prima serem importados, o que dá uma sensação de falta de nacionalidade e de integridade na identidade sócio-económica. Talvez a atitude, histórica até, de sair, conquistar, buscar riquezas fora, acreditando sempre nas facilidades, e numa melhor vida de desfrute sem esforço, ao mesmo tempo incorporada a falsa ideia ainda de nobreza de reis, sem mais o serem, levam o povo a consolidar sua vivência numa eterna fronteira imaginária, e numa sempre vontade e conduta por trabalhar menos e ganhar mais. A preocupação por heranças cá é muito grande, culpabilizações ao poder público também é grande. Mas poucos são os que se apaixonam por uma nova ideia, poucos são os que se mobilizam para realizar um sonho.
Há quem despreze a cultura do afecto, do carinho, e das emoções, acreditando ser algo menor, e incompatível com inteligência e conhecimento; há quem critique por exemplo o povo brasileiro por se permitir alegre até quando passa necessidades básicas. Ledo engano dos racionalistas, que por trás disso na verdade existe é uma inveja enorme, de quem tem o PODER de SER feliz, natural, expressivo, autêntico…permitindo-se esquecer do TER por bons momentos, e valorizando mais a vida, as pessoas e a diversidade.
No Jornal de Notícias deste último sábado, lê-se que a Direcção de Saúde do Norte quer os médicos dos serviços públicos mais sorridentes com os utentes, olhando mais para eles do que para o computador, mas sem exagerar em carinhos. Confesso que a notícia me chocou, embora eu saiba que isto é uma realidade em Portugal, mas o que me chocou mesmo foi o não exagerar em carinhos, dito isto publica e descaradamente num Jornal, pois aprendi ao longo de 30 anos de estudos profissionais e de vida, que carinho, afecto e amor nunca são demais, e que é melhor errar pelo seu exagero do que pela sua falta.
Fonte: Por Catarina Conceição . Disponivel in: http://www.ciari.org/