sexta-feira, novembro 14

A realidade de comportamento dos portugueses


Posterior, farei menção sobre o assunto..., por enquanto, desfrutem o que a Dra. Catarina Conceição, no artigo supra referido, delineou um sumário  da realidade de comportamento dos portugueses, extremamente enraizado no inconsciente coletivo cultural em Portugal.

"Esta realidade vem se arrastando historicamente, vem limitando desfavoravelmente o desenvolvimento do país e a Cidadania dos portugueses. Cidadania esta, que deveria ser construída com mais avanços em direcção à superação dos medos e das desconfianças de si, do vizinho, do colega, do imigrante que chega, do diferente, do governo, do novo, e do país. Portugal é um país com seu povo em baixa auto-estima; o povo não acredita no outro, nem em si mesmo, apesar do ar imponente dos resquícios da nobreza; Portugal é o país do SE CALHAR. Vejam a diferença entre BRASIL, o qual é o país DO COM CERTEZA, mesmo em momentos de não certeza. Apesar de que optimismo exagerado também não ser lá muito bom, mas é sempre preferível ao invés de uma postura derrotista e esmagadoramente para trás, como o que acontece em Portugal.

Portugueses, por exemplo: gostam de sentar na mesma mesa, no mesmo canto, tomar o café daquele mesmo jeito; não gostam que se metam em suas vidas, mas gostam de saber da vida de todos; valorizam o TER, mas apenas ao que se refere a dinheiro, a um DR e ao casamento, negando completamente o valor do saber, da educação, das ideias, da emancipação, e do conhecimento do outro; isso lhes dá uma (pseudo) segurança, lhes dá um (pseudo) controle social, mas é na verdade um conservadorismo prejudicial que entrava mudanças, que entrava o pensar maior, que entrava a aprendizagem e o desenvolvimento.

Deveriam ser investidas acções com mais abertura aos sentimentos, as emoções, as mudanças e a esperança. Como diz a Catarina no seu artigo, é preciso PAIXÃO. Pois percebo que, os sentimentos e à socialização da verdadeira liberdade, são tolhidos/reprimidos em Portugal. As pessoas cá não podem sentirem-se felizes, porque dizem logo isto é fantasia; não se pode tocar no corpo do outro, como expressão de carinho, fraternidade e calor humano, porque sentem logo uma libidinosidade naquele acto e desconfiam das intenções, até porque se forem eles a tocar, realmente estarão com segundas intenções.

São na verdade, à sexualidade e os sentimentos reprimidos que muitas vezes saem pelas tangentes, até mesmo faz adoecer física e mentalmente a população. Este sistema, socialmente, predominante nas relações, além de criar mentes radicais, conservadoras, estagnadas, críticas sem fundamentos cultos, e de certa forma agressiva no expressar, como por exemplo a xenofobia, geram profundos distúrbios psicológicos nas próprias pessoas, e desencontros nos diversos momentos das relações sociais do quotidiano. Imaginemos a extensão disso para as Relações internacionais?

Óbvio que, esta distância nos relacionamentos (nos sentimentos) não é só pertinente aos portugueses é também a outros povos do mundo, que em geral até são economicamente mais desenvolvidos, mas aqui em Portugal a grande diferença, é que o povo fragilizado financeiramente, é onde mais transfere a necessidade do SER para o TER, e assim tantas outras coisas desviantes tomam o lugar dos autênticos afectos, como o dinheiro, o álcool, as drogas, as discussões banais, a insegurança do perder, e o medo de amar e de ser feliz. Todos querem ser felizes, mas não largam o xale preto para si próprio e para o outro, sobrepondo-o aos ombros toda vez que algo deste universo emocional incita. Será que não sabem que a recolha de sentimentos e a frieza (que confundem com equilíbrio) em nome da racionalização, cortam à criatividade, à espontaneidade, e à compreensão? Consequentemente inibem mudanças e evolução de saberes, acarretando baixa aprendizagem e incompetências?

A economia em Portugal é muita baixa em relação as suas potencialidades, vemos mais de 70% dos produtos de consumo e matéria prima serem importados, o que dá uma sensação de falta de nacionalidade e de integridade na identidade sócio-económica. Talvez a atitude, histórica até, de sair, conquistar, buscar riquezas fora, acreditando sempre nas facilidades, e numa melhor vida de desfrute sem esforço, ao mesmo tempo incorporada a falsa ideia ainda de nobreza de reis, sem mais o serem, levam o povo a consolidar sua vivência numa eterna fronteira imaginária, e numa sempre vontade e conduta por trabalhar menos e ganhar mais. A preocupação por heranças cá é muito grande, culpabilizações ao poder público também é grande. Mas poucos são os que se apaixonam por uma nova ideia, poucos são os que se mobilizam para realizar um sonho.

Há quem despreze a cultura do afecto, do carinho, e das emoções, acreditando ser algo menor, e incompatível com inteligência e conhecimento; há quem critique por exemplo o povo brasileiro por se permitir alegre até quando passa necessidades básicas. Ledo engano dos racionalistas, que por trás disso na verdade existe é uma inveja enorme, de quem tem o PODER de SER feliz, natural, expressivo, autêntico…permitindo-se esquecer do TER por bons momentos, e valorizando mais a vida, as pessoas e a diversidade.

No Jornal de Notícias deste último sábado, lê-se que a Direcção de Saúde do Norte quer os médicos dos serviços públicos mais sorridentes com os utentes, olhando mais para eles do que para o computador, mas sem exagerar em carinhos. Confesso que a notícia me chocou, embora eu saiba que isto é uma realidade em Portugal, mas o que me chocou mesmo foi o não exagerar em carinhos, dito isto publica e descaradamente num Jornal, pois aprendi ao longo de 30 anos de estudos profissionais e de vida, que carinho, afecto e amor nunca são demais, e que é melhor errar pelo seu exagero do que pela sua falta.

Fonte: Por Catarina Conceição . Disponivel in: http://www.ciari.org/