sábado, novembro 23

Mais um náufrago. E ela vazia, vaga por esse mundo...



Só ternura.
Uma doce ternura.
Mas se desfez na ilusão da utopia.
 A felicidade, por cruel ausência,
Deixou-a em agonia.
 E ela, vazia, vaga por esse mundo, 
sendo de todos, sem ter ninguém.
Sina dela...
["SINADELA" de José Valdir Pereira]
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E, quando nos tornamos bastante prática nos relacionamentos, raras vezes permitimos que venham a perceber, o quanto somos frágil e sensível... Ou seja, quando temos duas maneiras completamente diferentes de se mostrar e descobrir o amor, dai deixamos completamente confusos a quem queremos tanto bem.
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Agindo desse modo, ficamos iguais a um náufrago!
Um náufrago verdadeiro - não esses de filme cujo ator fica em casa fazendo dieta. Realmente, refiro-me àquele naufrago, que está há cinco dias à deriva no mar do Caribe, sem beber nem comer nada.
Com sede e fome brutais, daquelas de dar dor no corpo, de fazer o ar faltar, de enrijecer as articulações. 
Uma pequena gaivota sobrevoa a balsa do náufrago. Em voos cada vez mais rasantes, ela se aproxima. 

Luis Alexandre Velasco - este é o nome do nosso herói - decide se deitar imóvel em sua balsa na esperança de que a gaivota pouse em seu corpo e seja, assim, capturada. Após horas, ela começa a bicar seus pés, ele imóvel. Ela caminha por suas pernas, ele imóvel. Ela fica ao alcance de suas mãos, ele suspende a respiração e, num movimento-relâmpago, a agarra.

De posse da pequena ave, Velasco torce seu pescoço e tenta tirar suas penas, rasgar sua pele, extrair suas vísceras, salvar algo que se pareça, mesmo que remotamente, com alimento. Porém, a pouca carne se funde com o sangue, as tripas e os ossos quebrados. O que resta em suas mãos é uma maçaroca vermelha intragável que ele, cheio de repugnância, joga ao mar para a alegria dos tubarões.


Nesse momento, Gabriel García Márquez(um dos meus autores favoritos),revela no livro "Relato de um Náufrago", o que se passa na cabeça do nosso herói: "É fácil dizer que depois de cinco dias de fome se é capaz de comer qualquer coisa. Porém, por mais faminto que se esteja, a gente sente nojo de uma mistura de penas e sangue quente, com um forte cheiro de peixe cru e sarna". 

Ou seja, mesmo há tanto tempo sem comer, Velasco percebe que não poderia comer qualquer coisa. Se passariam ainda mais cinco dias - dez, no total - sem água e sem comida até que o náufrago chegasse, semimorto, a uma praia ao norte da Colômbia na qual seria, finalmente, resgatado.

E agora, leitora amiga, você olha para sua agenda de telefones, para seus contatos no Facebook, MSN e outros mais, para os sujeitos que tentam engatar uma paquera contigo, e pensa exatamente a mesma coisa que o náufrago. Alimentos que até parecem apetitosos se aproximam, mas eles não resistem à rajada de três frases inteligentes e acabam por te embrulhar o estômago.


Será que seus critérios de escolha é que estão bem mais altos? Claro que sim, pois hoje , nós mulheres, estamos mais exigentes do que nunca estivemos. A cada malária que se pega nas florestas tropicais, o corpo fica mais resistente - e mais desconfiado de qualquer sombra de mosquito.

A verdade é, parece, tudo indica que sim..., embora resista eu em crer nesta hipótese (se calhar, seja uma irrestrita sonhadora, porque ainda creio em algumas teorias - tipo a da famosa "Alma gêmea" ), mas..., voltando ao inicio do parágrafo, parece não haver o que salvar nesse mar sem peixes: não existe ninguém que estimule o bastante para fazer tirar a roupa; (Isso queremos, contudo por amor..., fazer amor é diferente, bem o sabemos). 

E, mesmo há tanto tempo sem "transar", mesmo precisando disso [ser uma faquir da luxúria nunca foi sua opção de paraíso],você sabe que não deseja, não suporta e não pretende "transar" com qualquer um. E, como Velasco, você (inclusa estou), jogamos gaivotas indigestas ao mar. Faz parte do naufrágio. Bem-vinda a bordo queridas mulheres independentes!