sexta-feira, janeiro 28

Ontem Fui, Hoje Sou


E chega um certo dia que nos transformamos de tal maneira que nem a própria essência do "outro" consegue nos enxergar. É o momento quando a caminhada da vida nos equilibra,  passamos a atingir um patamar quase invisivel...  
De tudo, só nos resta ser sempre o ontem e o hoje, indo salutando..., lembrando que o mundo não para. Como bem dizem, na natureza nada se PERDE.
Seguir em frente, andar devagar..., fazer boas escolhas...,  levando sorrisos e sentindo-se mais forte, mais feliz... conhecendo mais e mais o pulsar que existe dentro de si mesmo e sorrir... agradeçer a vida e o fato de poder sorrir simplesmente... SER e VIVER!

Fui,
um imolado daquela enfermidade social,
um náufrago daquele conformismo infernal,
um resto de uma existência dirigida,
um acompanhante desacompanhado.

Fui,

carne, que ardia em cada fenecer,
espírito que padecia em cada sofrer,
ninguém como alguém que nada quer ser,
produto de um meio que não se descondicionou.

Sou,

uma consciência desapossada e incontida,
um todo que se faz a si mesmo,
uma parte de um todo descontraído,
um ser que se encontrou e se fez sentido.

Sou,

alegria em todo amanhecer,
amante amado em todo anoitecer,
felicidade que se expande,
aquele que, apesar de tudo,
não deixa de ser.

[José Valdir Pereira]

quarta-feira, janeiro 12

Che Guevara, herói ou vilão?

Filho de pais descendentes de nobres europeus, mas sem muito dinheiro, apenas nome, o menino Ernesto Guevara era muito doente, sofria de asma, ficando a maior parte do tempo numa cama, onde aprendeu a ler e escrever com a mãe.
Os seus amigos eram todos almofadinhas e vestiam bem, enquanto o jovem Ernesto ficou conhecido pelo apelido de Chancho, que na língua pátria do mesmo significava “porco”, vez que não gostava de tomar banho e vestia muito mal. No carnaval fantasiava-se de Gandhi.
Mesmo sendo atacado por constantes crises de asma, acabou perdendo a virgindade com menos de 15 anos, com uma empregada negra que prestava serviços para um amigo, sendo observado por todos eles, que puderam ver pelo buraco da fechadura a interrupção do coito por algumas vezes para alívio da tosse asmática, vindo tal fato ser objeto de muita gozação.
 
Durante o curso de medicina em Buenos Aires, nunca participou de nenhum ato político. Ernesto recusava-se a participar de tais eventos. Nessa época, a Argentina vivia momentos de intensa insegurança, posto que sistematicamente, aconteciam golpes militares.
O jornalista americano Jon Lee Anderson, que escreveu uma das várias biografias suas existentes, afirma que “apesar da curiosidade pelo socialismo, ele até então não demonstrava qualquer inclinação por se filiar à esquerda.” O que na verdade chamava a atenção do jovem estudante eram duas coisas: os livros e as viagens. Apreciava as filosofias grega e indiana. Lia Freud, Aldous Huxley e tantos outros.
Ernesto levava uma vida como de qualquer jovem de sua idade enquanto vivia na comodidade da capital de seu país. Isso começou a mudar a partir do momento em que saiu de motocicleta pelo mundo (América do Sul) com um colega de nome Alberto Granado. Passou por várias experiências, vindo a conhecer as reais dificuldades pelas quais passavam o povo peruano. Deparou com muito sofrimento, doenças, pobreza, descaso. Conviveu e trabalhou como médico em uma colônia de leprosos no Peru. Nesse período estava lendo Karl Marx, a polonesa Rosa de Luxemburgo e trabalhos do filósofo socialista peruano José Mariátegui. 

.
Resolveu viver na Guatemala, onde o presidente Jacobo Arbenz iniciava uma reforma agrária, época em que conheceu a jovem peruana Hilda Gadea, líder exilada, que acabou por apresenta-lo a Nico Lopez e outros exilados Cubanos. Buscou o México, santuário dos exilados políticos da América Latina. Lá conheceu Fidel Castro, travou amizade e selou seu futuro rumo à glória e morte.
A paixão de Fidel Castro por Cuba e as idéias revolucionárias de Guevara se uniram, atraindo novos simpatizantes para a tomada de poder, sendo certo que apenas a alta burguesia cubana continuava apoiando o ditador Batista, que em maio de 1957 teve a sua primeira derrota, fazendo germinar o mito Che Guevara.
Centenas de pessoas foram fuziladas nos 6 meses em que Che ficou encarregado das execuções de presos políticos. Alguns consideram que ele perdoou o quanto pôde.
Foi nomeado presidente do banco nacional de Cuba. Certa feita teria dito a Fidel: “Não nasci para ser ministro nem avô”, queria continuar fazendo revolução em outros países.
Esteve na África em 1965 para irradiar a guerrilha, sem bons resultados, todavia seu sonho era revolucionar a Argentina, acabou por ir para a Bolívia onde foi morto em 9 de outubro de 67, sendo este o diálogo que manteve com seu executor o tenente boliviano Mário Terán: “Fique calmo e aponte bem! Você vai matar um homem”. Morreu Ernesto Guevara e nasceu o mito Che.

domingo, janeiro 9

Um pequeno texto para uma grande reflexão

Conforme declarou Nietzsche em “O viajante e sua sombra”, a palavra homem significa aquele que avalia: ele quis denominar-se pelo seu maior descobrimento. Ora, nós não somos indiferentes tanto em relação àqueles elementos que favorecem a nossa existência e, por isso, os buscamos [sentido positivo do valor], quanto em relação àqueles que nos prejudicam e, por isso, os buscamos [sentido positivo do valor], quanto em relação àqueles que nos prejudicam e, por isso os rejeitamos [sentido negativo]. Constatamos, pois, em primeira instancia, que a situação abra ao homem um campo imenso de valores: é o domínio do prático-utilitário. O homem tem necessidades que precisam ser satisfeitas e este fato o leva à valoração e aos valores. Mas, se o homem não permanece indiferente frente às coisas, isto significa que ele não é um ser passivo, totalmente condicionado pela situação. Por este motivo ele reage à situação e intervém pessoalmente para aceitar, rejeitar ou transformar.

Surge as indagações
O próprio Nietzsche, na sua crítica à transvaloração dos valores, de alguma forma, não estaria cultivando uma disposição negativa ante ao modo de ser da realidade, considerando-se o contexto histórico em que ele vivia? Não estaria ele, implícita ou explicitamente, tentando edificar uma nova moralidade segunda a qual o único critério da existência é o próprio ser?

Em sua "Genealogia da moral"  Nietzsche disserta que os valores, por estarem articulados com o próprio modo de dar-se da vida, isto é, com o movimento da vontade, são sempre passíveis de apreensão através de duas disposições fundamentais: as disposições afirmativa e reativa. Respectivamente, aquelas que indicam sintonia e des-sintonia com a compreensão de vida como valor. No primeiro caso, a disposição afirmativa surge na sintonia com uma perspectiva que se constrói a partir do aquiescimento do modo de ser sempiterno da gênese de realidade, celebrando a vida enquanto experiência de criação. A esse processo Nietzsche chama vontade criadora. No segundo caso, a disposição negativa irrompe em uma perspectiva que, ao se instaurar, nega a si mesma enquanto perspectiva e se arroga o direito de determinar (para além de toda e qualquer instância de realização) o modo de ser da totalidade dos entes. Esta é a compreensão da verdade, como uma instância que surge em função da separação radical frente ao mundo fenomênico, recebe o nome de vontade de verdade.

Estas determinações vão se confundindo aos poucos, no movimento de concretização do processo de valoração, com as determinações da substancialidade subjetiva, com a natureza da razão especulativa. Daí, a vontade de verdade valer como uma vontade de auto-asseguramento, sendo uma experiência derivada que nasce da compreensão de que a vida é radicalmente movimento de repetição do momento constitutivo de origem; um momento impossível de ser apropriado pelo pensamento lógico-representativo. Essa impossibilidade de apropriação e controle do momento primeiro, que atravessa o acontecimento vida, apesar de ser constantemente experimentada pelo homem no caminho histórico de sua realização, pode ser degradada por um artifício da imaginação (NIETZSCHE, 1998).

Assim, a existência humana, embora originária da natureza, resulta de uma ação que a nega manifestando-se como projeto dos próprios homens e, enquanto tal, configura-se como um fenômeno cultural que se desenvolve no tempo. Portanto, a existência humana se manifesta como temporalidade, isto é, como historia. Segue-se, pois, que o homem é um ser essencialmente histórico, cuja estrutura se expressa na unidade dialética de três elementos que se negam e se afirmam reciprocamente: situação, liberdade e consciência.

Bibliografia:
NIETZSCHE, W. F.Genealogia da moral: uma Polêmica. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.