segunda-feira, agosto 6

Pedagogia Histórico-Crítica e o primeiro passo para repensar o processo de acumulo do conhecimento cultural humano

O primeiro passo para repensar o processo de acumulo do conhecimento cultural humano é através do reconhecimento do lócus do próprio homem, enquanto um ser bio-psiquico-social e historicamente determinado.


Nessa perspectiva, o homem de uma criação divina – criatura de Deus – passa a ser pensado como uma criatura que transforma a “natureza” e a si própria, através do trabalho. O trabalho produzido nessa relação homem / “natureza”, enquanto ação intencional adequada a determinadas finalidades de transformação da natureza, cria um mundo humano (cultural) que permite sua subsistência material e não material. (SAVIANI, 2003).



A interferência desse homem possibilita, não somente a produção material, como também na não-material, que é o caso da educação, cuja natureza vem de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades criadas pelos homens em sociedade e, esses elementos são constituídos como segunda natureza.



Nesse prisma, podemos vislumbrar a construção do conhecimento a partir da base material e o trabalho enquanto fundamento do processo do conhecimento. Segundo Saviani (2003, p. 12) "O que não é garantido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos homens, e ai se inclui os próprios homens".



Podemos, pois, dizer que a natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica. Conseqüentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identidade dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta de formas mais adequadas para atingir esse objetivo.

Percebe-se a importância de repensar o lócus do homem com base nessa concepção pressuposta pelo materialismo histórico (dialético), dentro de uma perspectiva historicizadora, que assim permite através destes elementos teóricos repensar a natureza, o trabalho, a educação, a cultura, em fim tudo que é humano.



Entendo que se coloca a relevância da concepção materialista dialética enquanto fundamentos teóricos, filosóficos e políticos concretos à educação, por permitir ao próprio homem a mobilidade necessária a tais mudanças. Assim, compreendo que para uma corrente pedagógica se constituir em pedagogia histórico-crítica, ela precisa assumir um posicionamento sobre o que significa educação e o que denota educar seres humanos.



Segundo Saviani, (2003, p.103) "A Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação”. Por conseqüência, é preciso se posicionar diante dessas contradições e esclarecer a educação das “visões ambíguas”, fato que, somente assim, percebe-se claramente qual é a direção que cabe imprimir a questão educacional.



Com o advento da pedagogia histórico-crítica, se passou a compreender a Educação no seu desenvolvimento histórico-objetivo. Abriu-se a oportunidade de entender que a proposta pedagógica tem como base a aplicação da metodologia dialética do ensino-aprendizagem, em substituição aos dogmas tradicionais, cujo referencial e compromissos estão voltado para a transformação da sociedade.



Para Libâneo (1991, p.31) a Pedagogia Histórico-Crítica foi sendo tecida, "na linha das sugestões das teorias marxistas que não se satisfazendo com as teorias crítico-reprodutivistas postulam a possibilidade de uma teoria crítica da educação que capte criticamente a escola como instrumento coadjuvante no projeto de transformação social".



Assim, o mais importante para a educação é que essa poderosa influência do meio social, da realidade material e histórica não é um determinismo implacável e unidimensional, pois o homem, como produto da história, também, é autor e sujeito desse processo.



A realidade material econômica e social e a história determinam não só a consciência, mas todo o ser humano. O sujeito e o seu pensamento são reflexos das múltiplas relações existentes na realidade material, pois ele é sujeito na medida em que é sujeito histórico. Assim sendo, a mente e o conhecimento têm formação social, e, portanto, sujeito humano também tem origem social e histórica.

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